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Outros: Como um sonho pode mudar tudo

Viktor acordou em sobressalto. Estava todo lambuzado. O sonho fora tão real!

Passou a mão e sentiu a cueca toda esporrada. Fez uma cara de asco e se levantou. No banheiro abriu a ducha. Enquanto esfregava o sabonete pelo corpo veio-lhe a lembrança do sonho: numa cama jazia nos braços de um homem, subjugado, submetendo-se a ele como uma puta desvairada no cio. O cu piscou e ele passou a mão; o seu buraquinho, contudo, estava preservado, intacto como sempre fora. Ufa! Graças a Deus tinha sido só um sonho.

Mas aquilo o perturbara sobremaneira; nem o trabalho e as ocupações conseguiram relaxá-lo. O pensamento lascivo, como uma nuvem, pairava constante sobre sua cabeça.

Certa noite, deitado na cama, após assistir o filme na TV, sonolento, desligou o controle remoto e deixou-se entregar ao merecido descanso. E o sono veio rápido.

Ele caminhava por uma estradinha de terra cercada pelo campo esverdeado. A tarde caía e o sol avermelhava tudo ao redor. Respirou fundo. Sentiu revigorar ao sentir o cheiro de mato e das flores silvestres que odorizavam tudo ao redor.

De repente, como num sonho - afinal era mesmo um sonho - Viktor vê surgir diante de si, enorme, uma visão sobrenatural. Tentou se mover, mas as pernas não o obedeceram.

A entidade estava à sua frente. Um manto enorme de cor indefinida cobria todo ser. A voz parecia sair do fundo do Hades:

- Aproxima-te.

Deu um passo a frente. Como era um sonho, ele se encontrava agora no interior de uma caverna iluminada apenas pela tocha que ardia no nicho. Viktor encontrava-se diante da criatura sentada num imponente e largo trono. Não lhe notara ainda o rosto.

- Aproxima-te.

Viktor achegou-se mais. A mão levantou o manto e o rosto se mostrou:

"Sou Ackleramon, o deus da luxúria e senhor dos teus pensamentos".

Era um velho. A barba branca descia-lhe até o peito. Viktor buscou na mente a imagem que sempre fizera de Abraão ou de algum outro patriarca bíblico. Talvez uma dessas figuras grandiosas dos filmes de Harry Potter.

"Conheço teus pensamentos, e vim a ti para revelar e fazer cumprir o destino que te foi traçado desde o princípio. Deverás desempenhar com obediência e constância as etapas que te forem indicadas, mirando, única e exclusivamente, na realização suprema e total dos prazeres lascivos que os deuses ousarem te proporcionar. Ser-te-á uma conquista digna de imperadores".

Viktor estava atônito.

Continuou o idoso:

- "Fizeste um juramento e da sua sina não poderás fugir jamais. Sua negação será a derrota que te trará muito dissabor e dor. Deverás exercer os meios ao teu alcance para cumprir fielmente o rito do teu destino e conseguir as graças dos deuses. Depende agora exclusivamente de ti. Siga em frente e que a fortuna te sorria".

Dizendo isso o ancião desapareceu em uma nuvem de fumaça, cegando o rapaz.

Quando tudo desvaneceu, Viktor percebeu que estava num enorme salão de um palácio da época romana. Mármore cobria a extensão do recinto. Um pequeno chafariz deixava o ambiente agradável e umidificado.

Percorreu outra ala silenciosa do suntuoso palácio, não havia viva alma ali. De repente pareceu ouvir um lamento:

"Amor, meu amor-deus! Que eu beije em frios teus. Lábios, teus quentes lábios imortais agora"

Sorrateiro, Viktor foi adentrando o aposento. Um homem debruçado sobre um magnífico dossel chorava sentido. Fazia dó ver. Viktor aproximou-se e num gesto de consolo passou-lhe a mão pelo cabelo. O homem ergueu a cabeça. Seus olhos, súbito, brilharam; miraram os olhos de Viktor; o rosto descontraiu. Depois se colocou de pé. Fazendo uma concha com as mãos segurou a cabeça de Viktor.

"Oh lábios cujo abrir vermelho titilava. Os sítios da luxúria com tanta arte viva! Oh dedos que hábeis eram no de não ser dito. Oh língua que na língua o sangue audaz tornava!"

Viktor sentiu o cheiro dele, suave. Pegando-o nos braços com uma noiva virginal, o homem o colocou suavemente no leito. Deitou-se ao seu lado. Nesse instante a voz de Ackleramon se fez ouvir. Porém, somente Viktor o escutava.

"Eis-te aí aos olhos de Adriano. Antínoo é morto, é morto para sempre. Tu és Antínoo. Sirva-o".

Viktor, transformado em Antínoo, virou-se e deu um prolongado beijo em Adriano. Sentiu a língua áspera a percorrer-lhe a boca, o pênis a roçar gostoso em suas pernas. Noutro momento Adriano já o colocava virado de lado. Untou-o com óleo aromático e encostou o pau na portinha do cuzinho rosado. Forçou um pouquinho e logo Antínoo se acostumava com todo membro imperial a explorar-lhe as entranhas, gemidos e sussurros entrecortados. Gozaram.

Viktor acordou em sobressalto. Estava todo lambuzado. O sonho fora tão real!

Observações: As citações poéticas são de Fernando Pessoa, "Antínoo".

Entre em contato com o autor: http://disponivel.com/



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21/11/2016 07:26:45 - Oi! Muito bem escrito: criativo, surpreendente! Só não aparece o nick de autor.

20/11/2016 22:02:13 - belo sonho...

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